16 de fevereiro de 2013

SINTO, LOGO EXISTO


Somos tudo aquilo que conseguimos fazer, porém, o somos, apenas, em parte. No fundo, somos tudo aquilo que sentimos em nosso íntimo, tudo aquilo que nos toca e emociona de alguma forma. No entanto, o que fazemos mostra o quanto há de intenso no que sentimos. Isto é, o quanto existimos de fato. Para esse fim, reformularia a frase de Descartes: "Penso, logo existo", para: "Sinto, logo existo". Eis a problemática de toda uma vida, que consiste no esforço constante de aproximar cada vez mais o discurso da prática. Como dizia Paulo Freire: "É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.". Enfim, que a consciência seja um convite vivo a sermos o que realmente somos, sem tanto pudor. Diante da infinita dinâmica existencial; todo fato é ficção; todo homem carrega o mito em si; toda nossa racionalidade é, invariavelmente, emotiva.

Diego Cosmo

30 de janeiro de 2013

SER É O BASTANTE

A eternidade despovoa o instante. Porque a vida e a morte são inseparáveis. Tirando-nos o morrer, a religião nos tira a vida. Em nome da vida eterna a religião afirma a morte dessa vida.

Octavio Paz
  

Ao crepúsculo se sabe que não seremos salvos pelas obras. Ao crepúsculo se retorna à verdade evangélica e protestante que afirma que somente a Palavra nos salvará. Ao crepúsculo se sabe que o que importa é "ser", simplesmente "ser".

Rubem Alves

ATÉ ONDE HOUVER CAPACIDADE

Quando o corpo não tiver mais fome, quando só existirem o enfado e o cansaço, então quererei morrer. Saberei que a vida se foi, a despeito dos sinais biológicos externos que parecem dizer o contrário. (...) Alguns há que pensam que a vida é coisa biológica, o pulsar do coração, uma onda cerebral elétrica. Não sabem que, depois que a alegria se foi, o corpo é só um ataúde. (...) A vida é uma entidade estética. Morta a possibilidade de sentir alegria diante do belo, morre também a vida. (...) E aí os teólogos e médicos, invocando a autoridade da natureza, dizem que a vida física deve ser preservada a todo custo... Mas a vida humana não é coisa da natureza. Ela só existe enquanto houver a capacidade para sentir a beleza e a alegria. (...) De fato, não há razões para o medo. Porque só há duas possibilidades. Nada existe depois da morte. Nesse caso, eu serei simplesmente reconduzido ao lugar onde estive sempre, desde que o universo foi criado. Não me lembro de ter sentido qualquer ansiedade durante essa longa espera. Meu nascimento foi um surgir do nada. Se isso aconteceu uma vez, é possível que aconteça outras. O milagre pode voltar a se repetir algum dia. (...) Se, ao contrário, a morte for a passagem para outro espaço, como afirmam as pessoas religiosas, também não há razões pra temer. Deus é amor e, ao contrário do que reza a teologia cristã, ele não tem vinganças a realizar, mesmo que não acreditemos nele. Nem poderia ser de outra forma: eu jamais me vingaria dos meus filhos. Como poderia o "Pai Nosso" fazê-lo? 
 
Rubem Alves (O Médico; págs: 49, 79, 80, 81 e 82)
 

"Vai, portanto, come a tua comida e alegra-te com ela,
bebe o teu vinho com um coração feliz.
Veste-te sempre de branco
e que não falte óleo perfumado nos teus cabelos.
Goza a vida com quem amas todos os dias da tua vida...
Pois Deus já aceitou o que fizeste
."

Eclesiastes 9.7

26 de janeiro de 2013

O PARADOXO DO CASAMENTO

Os paradoxos estão por trás das coisas que importam para nós. O casamento é um paradoxo: eu não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela. As duas afirmações são verdadeiras. E a dinâmica entre essas duas afirmações é o que mantém o casamento interessante, entre outras coisas. Os paradoxos são o oposto das contradições. As contradições se fecham em si mesmas, mas os paradoxos se mantêm evoluindo, porque, cada vez que você reconhece a verdade de um lado, é apanhado pela verdade do outro lado.

Chris Anderson (Free - O Futuro dos Preços; pág: 99)