2 de fevereiro de 2022

TRIPÉ DA ANULAÇÃO

Somos, quase todos nós, analfabetos emocionais. Primeiro são os pais, peritos em anular a auto-estima dos filhos e provar que eles não servem para nada; depois a escola, que insiste em mostrar que a criança está lá para se comportar e obedecer e não para desenvolver seus talentos; e, por fim, a religião dá o toque final, castrando nossa felicidade e nos impingindo culpa. Pais, escola e religião formam a base do que chamo de tripé da anulação: um bem-azeitado “sistema de educação” que funciona com tal eficiência e habilidade em produzir pessoas inseguras e frágeis que quase ninguém consegue escapar. (...) Não esqueça que você tem marcado em seu inconsciente (...) um programa de autodestruição que fala alto. Mesmo sem percepção disso, você tende a trabalhar contra suas vitórias, contra você mesmo. (...) A criança veio ao mundo para representar a magnificência do ser humano e para viver com plenitude. É exatamente o que faz nos primeiros meses e anos de sua vida. Mas essa pessoa será paulatinamente destruída no cerne da sua existência. (...) Todo mundo quer ser aceito. O pai, naquele dia, deu atenção ao filho porque estava triste, fez carinho. E a mãe falou: “O que você tem? Está tão tristinho…”. A criança pensa que descobriu a mina e deduz que o negócio é ficar triste. Claro que isso tudo acontece no nível inconsciente. Mas o inconsciente age no consciente sem a percepção do consciente e o que se tem é uma bomba-relógio de efeito tardio que vai minar os seus desígnios de saúde, de sucesso, de alegria de viver. O mais terrível vem quando a criança adoece. Esse é o pior momento para estimulá-la, fazer qualquer tipo de agrado, mas é o que mais acontece. (...) Não podemos fazer festa com estímulos do tipo: “Olhe, hoje você vai assistir televisão até mais tarde, mas só porque está doente, viu?” (...) No afã de fazer de seus filhos os melhores, acabam exigindo demais, exaltando suas falhas, corrigindo sempre seus erros e fracassos e talvez achando que algumas de suas vitórias, como acordar cedo, não faltar à escola, dar conta das tarefas escolares, enfim, fazer as coisas certas, é obrigação deles. Enaltecem somente seus erros e fracassos. E fazem isso com a voz carregada de emoção, de forma áspera, o que gera adrenalina, fixando para sempre o erro e o fracasso em sua memória. (...) Os acertos, quando enaltecidos, são colocados para a criança com calma e equilíbrio, sem provocar o derramamento de adrenalina em sua corrente circulatória - o que marcaria fisiologicamente esses acertos em sua memória.

Nuno Cobra (A Semente da Vitória; págs: 48, 49, 50, 51 e 72)

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