É com essa concepção - em níveis diversos de aspiração, melancolia, paixão e desorientação angustiada - que a melhor parte da juventude começa a sua vida. Não chega mesmo a ser uma perspectiva, para a maioria, mas sim uma impressão anuviada, titubeante e indefinida, feita de sofrimento bruto e de incomunicável felicidade. É uma sensação de imensa expectativa, a sensação de que a sua própria vida é importante, de que grandes realizações estão ao seu alcance, e de que grandes coisas estão por vir. Não é próprio da natureza do homem - ou de qualquer ser vivo - já começar por desistir, começar cuspindo na própria cara e amaldiçoando a existência: para isso é necessário que haja um processo de corrupção cuja rapidez difere de homem para homem. Alguns desistem já à primeira contrariedade; outros se vendem, outros decaem numa progressão imperceptível e perdem seu fogo, sem nunca saber quando ou como o perderam. Mais tarde, todos eles submergem no vasto pântano dos mais velhos, que persistem em lhes dizer que a maturidade consiste em abrir mão do próprio discernimento; que a segurança consiste no abandono dos próprios valores; a praticidade, na perda da auto-estima. Contudo, uns poucos persistem e seguem em frente, sabendo que aquele fogo não deve ser traído, aprendendo como lhe dar forma, propósito e realidade. Mas, tenham o futuro que tiverem, na aurora de suas vidas, os homens buscam uma perspectiva nobre a respeito da natureza do homem e do potencial da vida. (...) Não importa que somente uns poucos em cada geração compreendam e alcancem a realidade plena da verdadeira estatura do homem - e que o restante vá traí-la. São aqueles poucos que fazem o mundo girar e dão à vida o seu sentido - e é a esses poucos que sempre procurei me dirigir. Os outros não me dizem respeito; não trairão A nascente ou a mim: trairão suas próprias almas.
Ayn Rand
Nova York, maio de 1968.
Ayn Rand (A Nascente; págs: 13 e 14)
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