Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa. (...) Se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai. (...) A existência se prolonga por um largo período para o que sabe dela usufruir. (...) Nada está mais longe do homem ocupado do que viver, nenhuma coisa é mais difícil de aprender. (...) A maior parte dos homens tem o mesmo estado de ânimo: neles, o desejo do trabalho é maior que a capacidade para tal, combatem a decadência do corpo, e a própria velhice lhes parece deplorável, pois os afasta dos negócios. (...) Adquirem penosamente aquilo que desejam, possuem com apreensão o que adquiriram. Enquanto isso, não se dão conta do tempo que não voltará, novas preocupações substituem as antigas, uma esperança realizada faz nascer outra esperança, a ambição provoca a ambição. (...) Cada dia só está presente por alguns momentos, mas todos os dias do passado a ti se apresentam quando assim ordenas; consentem que sejam detidos e inspecionados pelo teu juízo, algo que aos homens ocupados falta tempo para fazer. (...) Somente o tempo presente pertence aos homens ocupados, tempo este tão breve que não pode ser alcançado e que é retirado deles já que estão distraídos com muitas coisas. (...) Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que te admires, durante toda a vida se deve aprender a morrer. (...) É próprio dos grandes homens e de quem se eleva acima dos erros humanos não consentir que lhe tirem nada de seu tempo, e assim toda a sua vida é muito longa, porque se dedicou a si mesmo, não importando quanto tenha durado. (...) Aquele que utiliza todo o tempo apenas consigo mesmo, que organiza todos os dias como se fosse o último, não deseja, nem teme o amanhã. Que novo prazer existe que qualquer hora já não lhe possa trazer? (...) Por mais curta que seja, é mais que suficiente, de maneira que, ao chegar o último dia, o homem sábio não hesitará em ir para a morte com tranquilidade.
Sêneca (Sobre a Brevidade da Vida; págs: 26, 41, 43, 50, 51, 53, 73 e 83)
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