Os indivíduos podem ser liberais e tolerantes, tomados à parte, mas, reunidos, tornam-se autoritários e tirânicos. (...) As multidões políticas, urbanas em sua maior parte, são as mais apaixonadas e furiosas: versáteis, por sorte, passam da execração à adoração, de um acesso de cólera a um acesso de alegria, com extrema facilidade. (...) Os públicos, como as multidões, são intolerantes, orgulhosos, enfatuados, presunçosos e, sob o nome de opinião, entendem que tudo submete-se a eles, mesmo a verdade quando esta os contraria. Não é visível também que (...) o sentimento de ponderação nelas se perde cada vez mais?
"A vida coletiva intensa é, para o cérebro, um terrível álcool."
As multidões manifestantes. (...) Quer manifestem sua convicção, quer sua paixão amorosa ou odiosa, alegre ou triste, é sempre com o exagero que lhes é próprio. Pode-se notar nelas duas características que têm algo de feminino: um simbolismo marcadamente expressivo, unido a uma grande pobreza de imaginação na invenção desses símbolos, sempre os mesmos e insaciavelmente repetidos. Levar em procissão estandartes e bandeiras, estátuas, relíquias, às vezes cabeças cortadas na ponta de uma lança, fazer ouvir vivas ou vociferações, cânticos ou canções, é mais ou menos tudo o que souberam inventar para a expressão de seus sentimentos. Mas, embora tenham poucas idéias, apegam-se muito a elas e não se cansam de proferir os mesmos gritos, de recomeçar a mesma passeata.
Gabriel Tarde (A Opinião e as Massas; págs: 34, 35, 36 e 40)
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