25 de junho de 2019

A UTOPIA PÓS-RACIAL


As fontes utilizadas por cientistas sociais e de mídia por mais de 80 anos para entender o mundo nos diziam que a esmagadora maioria dos norte-americanos não se importavam com o fato de Obama ser negro ao avaliar se deveria ou não ser presidente. (...) O retrato dos Estados Unidos criado pelas buscas no Google apresenta uma diferença impressionante da utopia pós-racial imaginada pelos pesquisadores. Lembro quando digitei pela primeira vez a palavra "nigger" [termo de cunho extremamente pejorativo usado para designar negros] no Google Trends. (...) Nos Estados Unidos, a palavra "nigger" - ou seu plural, "niggers" - aparecia em praticamente o mesmo número de buscas que palavras como "enxaqueca", "economia" e "Lakers". (...) Frequentemente, eles procuravam por piadas para zombar de afro-americanos. (...) 20% das buscas com a palavra "nigger" também incluíam o termo "jokes" [piadas]. Outras buscas comuns continham expressões como "stupid niggers" [crioulos idiotas] e "I hate niggers" [odeio crioulos]. (...) Quando as buscas por “nigger(s)” - ou “nigger jokes” - são mais comuns? Sempre que um afro-americano é notícia. Entre os períodos em que essas buscas foram mais altas está o momento logo após o Furacão Katrina, quando a televisão e os jornais mostravam imagens de pessoas negras desesperadas em Nova Orleans lutando para sobreviver. Elas também dispararam durante a primeira eleição de Obama. E as buscas por “nigger jokes” aumentam em média 30% no Dia de Martin Luther King Jr. (...) Eles revelaram um ódio perverso, assustador e amplamente disseminado que esperava por um candidato que lhe desse voz. (...).
 
As áreas que descobri fazerem a maior parte das buscas racistas, em outras palavras, pagam menos a pessoas negras. E então, existe o fenômeno da candidatura de Donald Trump. (...) Quando Nate Silver, o guru das pesquisas eleitorais, procurou pela variável geográfica com a correlação mais forte com o apoio a Trump nas prévias do Partido Republicano de 2016, ele a encontrou no mapa do racismo que desenvolvi. Esta variável foi a busca por “nigger(s)”. (...) As áreas que continham os maiores números de apoiadores de Trump eram as que faziam mais buscas no Google pelo termo “nigger”. (...).

Na noite da eleição, buscas e assinaturas para o Stormfront, um site de nacionalismo branco surpreendentemente popular nos Estados Unidos, foram mais de dez vezes superiores ao normal. Em alguns estados, houve mais buscas por "nigger president" [presidente crioulo] do que por "first black president" [primeiro presidente negro]. (...) Stormfront.org, o site de ódio mais popular dos Estados Unidos. (...) Foi fundado em 1995 por Don Black, ex-líder da Ku Klux Klan. (...) A idade mais comum que as pessoas ingressam no site é 19 anos. E há quatro vezes mais jovens de 19 anos do que homens de 40 registrados. (...) Estimo que 30% dos membros do Stormfront são mulheres. (...) O percentual do público-alvo do Stormfront que realmente se filia ao site é de fato mais alto em áreas com mais minorias. (...) Em seu perfil, Whitepride26, uma estudante de 41 anos de Los Angeles, diz: “Não gosto de negras, latinas e de algumas asiáticas, especialmente quando os homens as acham mais atraentes do que uma mulher branca.” Certos eventos políticos desempenham um papel. O dia de maior aumento na filiação da história do Stormfront foi, de longe, 5 de novembro de 2008, o dia após a eleição de Barack Obama como presidente. Não houve, porém, um aumento de interesse no Stormfront durante a candidatura de Donald Trump, e houve apenas um pequeno aumento imediatamente depois de sua vitória. Trump desfrutou da onda de nacionalismo branco. Não existem evidências aqui de que ele tenha criado essa onda. A eleição de Obama levou a uma explosão do movimento de nacionalismo branco. A eleição de Trump parece ser uma resposta deste movimento.

Seth Stephens-Davidowitz (Todo Mundo Mente; págs: 2, 6, 7, 12, 131, 133, 136, 137 e 138)

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