1 de setembro de 2016

LIBERALISMO NO BRASIL

O pensamento liberal foi realmente uma resposta de sucesso ao autoritarismo e ao nacionalismo radical do pós-guerra no século passado. É evidente, também, que o pensamento liberal foi uma das forças do mundo ocidental para derrotar o comunismo e pôr fim à Guerra Fria. As liberdades individuais e a capacidade do indivíduo se auto-governar são ideias deliciosas. O tempo e o contexto mundial pós globalização se incumbiram de esvaziar as esperanças deste pensamento, lamentavelmente. Como diria Isaiah Berlin no primeiro capitulo de "The Crooked Timber of Humanity”: “O discurso liberal…dá a um grupo o espaço necessário para realizar suas próprias idiossincrasias para objetivos únicos e particulares, sem interferência de outros grupos." Duro de engolir para quem aposta na saída liberal. Para os que vendem a ideia da meritocracia apesar da gritante desigualdade do país. O discurso liberal no Brasil, clama por menos presença do Estado num país que já não tem Estado há décadas. Torce para que o Estado se afaste porque é corrupto e ineficaz. Convencidos que estão de que o Estado sempre será corrupto e ineficaz. Pede por liberdade de nos auto-governarmos quando 40% da população não recebem serviços de saneamento básico. Exige a meritocracia quando a esmagadora maioria das nossas crianças não recebe ensino de qualidade nas escolas publicas. Propõe o livre porte de armas não como atestado da liberdade individual, mas como forma de repor a ineficiência da Segurança que o Estado deveria prover. Deseja a menor presença do Estado quando somos medíocres em Saúde e Educação. Quem - no mundo liberal - vai assumir a responsabilidade por nos dar o mínimo que o Estado deveria ter dado? Outro algoz do pensamento liberal foi a globalização.
 
O Brasil perdeu o trem da modernização. Perdeu a guerra pela competitividade no mundo. Quem - no mundo liberal - vai reverter essa situação ao mesmo tempo que vai se dedicar a dar condições de vida à esmagadora população desassistida? É isso que queremos como Nação? Sucesso aos privilegiados que tiveram a sorte de nascer herdeiros ou com a possibilidade de auto-governar? Sucesso apenas para as exceções que foram capazes de escapar da cilada da pobreza? Quem no mundo liberal vai lutar por interesses comuns de toda a população inassistida? É por isso que o pensamento liberal perdeu tração. Não só aqui, no mundo todo. E a direita se desespera. Esse desespero é em última análise, o que permeia o crescimento de nomes como Donald Trump, Marine Le Pen e companhia. O medo de dividir oportunidades. É fácil pedir que o Estado não atrapalhe quando se tem independência pessoal para ser liberal. Não. Não sou petista. Não sou comunista. Fora Dilma. Adeus PT. Estado competente, justo e honesto, não necessariamente mínimo. A saída não é uma virada radical como é a proposta liberal. Será um dia, quem sabe. Estado mínimo quando o Estado nos der o mínimo.

Mentor Neto


O discurso embasado na meritocracia desresponsabiliza o Estado e joga nos ombros do indivíduo todo o peso de sua omissão e da falta de políticas públicas. A meritocracia naturaliza a pobreza, encara com normalidade a desigualdade social e produz esquecimento – quem defende essa falácia não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou.

Fernanda Orsomarzo

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