10 de agosto de 2016

TEATRO É TUDO


"Tudo bem, criança, tudo bem. Já acabou. O passado não vai mais machucá-la, a não ser que permita. Transformaram você numa vítima, Evey... Em mais uma estatística, só que essa não é você, não é o seu interior. Confie em mim. Nós podemos apagar tudo... A dor, a crueldade. Juntos podemos recomeçar." (...) "Não é curioso como tudo termina em drama? (...) Teatro é tudo, Evey. O perfeito êxtase. A grande ilusão. É tudo. ...E eu quero ser muito aplaudido. Eles se esqueceram dos dramas, abandonaram os roteiros quando o mundo cintilou sob os clarões dos holofotes nucleares. Eu vou fazer com que se lembrem do drama, dos romances, das tramas policiais. Como vê, Evey, o mundo é um palco. Tudo o mais... ...É Vaudeville."

"Não se deve contar com a maioria silenciosa, pois o silêncio é algo frágil. Um ruído alto... ...E está tudo acabado. (...) O barulho é relativo ao silêncio que o precede. Quanto mais absoluta a quietude, mais devastadora as palmas. Nossos governantes não ouvem a voz do povo há gerações, Evey... ...E ela é muito mais alta do que eles se recordam." (...) "Todo esse tumulto e gritaria, V... Isso é anarquia? (...) Não. Esta é a terra do pegue o que quiser. Anarquia significa sem líderes, não sem ordem. Com anarquia, vem uma era de ordung, de verdadeira ordem, ou seja, ordem voluntária. (...) Isto não é anarquia, Eve. Isto é caos. (...) A ordem involuntária gera insatisfação, mãe da desordem, prima da guilhotina. Sociedades autoritárias são como a formação de crostas de gelo. Intrincadas, mecanicamente precisas e, acima de tudo, precárias. Sob a frágil superfície da civilidade, o caos se convulsiona... ...E há locais onde o gelo é traiçoeiramente fino. (...) A autoridade, quando detecta o caos pela primeira vez em seus calcanhares, fará as coisas mais vis para preservar a fachada de ordem... ...Mas, como sempre, ordem sem justiça, sem amor ou liberdade, não pode deter a derrocada de seu mundo para o holocausto. A autoridade admite dois papéis: o torturador e o torturado. Ela transforma as pessoas em manequins amorfos que temem e odeiam, enquanto a cultura mergulha no abismo. (...) O colapso da autoridade permeia o leito, as diretorias, a igreja e a escola. Tudo é mal gerido. A igualdade e a liberdade não são luxos a serem levianamente desprezados. Sem elas, a ordem não pode persistir antes de alcançar grandes profundezas. (...) A anarquia ostenta duas faces, a criadora e a destruidora. Destruidores derrubam impérios, fazem telas com os destroços, onde os criadores erguem mundos melhores. (...) Este país não está salvo... Não. Não se iluda... Mas todas as velhas crenças tornaram-se destroços... E, dos destroços, podemos reconstruir. Esta é a missão deles: governarem-se a si mesmos, suas vidas, amores e terra. Com isso alcançado, que falem de salvação. Caso contrário, certamente, serão carniça."

"Você pretendia me matar? Não há carne ou sangue dentro deste manto pra morrerem. Há apenas uma ideia. Ideias são à prova de balas."

Alan Moore (V de Vingança; págs: 31, 33, 195, 196, 197, 199, 200, 201, 224, 238 e 247)

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