Mesmo sem abandono, o desaparecimento progressivo da beleza da juventude é sentido - e na verdade o é - como uma perda. Perda de poder. Perda de possibilidades. (...) Começamos as sentir que esse é um tempo de contínuas desistências, uma coisa depois da outra. A cintura. O vigor. O senso de aventura. A visão 20 por 20. A confiança na justiça. O entusiasmo. O espírito alegre. O sonho de ser campeã de tênis, estrela da TV, senadora, a mulher pela qual Paul Newman finalmente abandona Joanne. Desistimos da esperança de ler todos os livros que queríamos ler, de ir aos lugares que tencionávamos visitar. Abandonamos a esperança de poder salvar o mundo do câncer ou da guerra. Abandonamos até a esperança de conseguir emagrecer ou ser... imortais. Sentimo-nos abalados. Assustados. Inseguros. O centro não está resistindo, e as coisas estão desmoronando. De repente nossos amigos, e talvez nós também, estão tendo "casos", estão se divorciando, tendo enfarte, câncer. Alguns deles - homens e mulheres da nossa idade! - morrerem. E, enquanto adquirimos novas dores e desconfortos físicos, nossa saúde é necessariamente mantida por cardiologistas, dermatologistas, urologistas, periodontistas, ginecologistas, psiquiatras e outros de cujos diagnósticos sempre queremos uma segunda opinião. (...) alguém que nos diga: Não se preocupe, você vai viver para sempre. (...)
Em cada dor, em cada mudança no nosso corpo, em cada diminuição de nossa capacidade, vemos indicações da nossa mortalidade. E, vendo o declínio sutil, ou não tão sutil, dos nossos pais, entendemos que estamos prestes a perder o escudo que nos separa da morte e que, depois que eles se forem, será a nossa vez. (...) Na meia-idade descobrimos que estamos destinados a ser pais dos nossos pais. Poucos incluem esse fato nos seus planos de vida. Como adultos responsáveis, tentamos fazer o melhor possível, embora achando que seria muito melhor sermos pais dos nossos filhos. Mas vamos descobrindo - com um misto de intensas emoções - que isso também está terminando. Pois os filhos gradualmente se afastam para outra casa, outra cidade, outro país. Estão vivendo fora do nosso controle e do nosso cuidado. E, embora existam certas vantagens no ninho vazio, precisamos nos adaptar à condição de ser apenas parte de um casal, não mais donos de uma casa que pulsa, que floresce, com sapatos e tênis espalhados por toda parte, não mais - nunca mais - aquela única e especial mamãe do "vou perguntar à minha mãe".
Com o colapso das realidades passadas, questionamos as autodefinições que nos mantiveram até então, descobrimos que tudo está à nossa disposição, questionamos quem somos e o que estamos tentando ser e se nesta nossa vida, a única que temos, nossas realizações e objetivos têm ainda algum valor. Nosso casamento faz sentido? Nosso trabalho vale a pena ser feito? Amadurecemos... ou simplesmente nos acomodamos? As nossas conexões com a família e os amigos são intercâmbios de amor ou dependências desesperadas? Até que ponto desejamos, ou ousamos, ser fortes e livres?
Judith Viorst (Perdas Necessárias; págs: 275, 276 e 277)
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