5 de julho de 2012

O PROCESSO DE ADESÃO E PERPETUAÇÃO NA IGREJA

Atos abertos de conversão são considerados libertação e começo de uma nova vida - e não se trata de ação do destino, mas de ato marcado pelo livre-arbítrio e entendido como manifestação verdadeira de uma liberdade recém-descoberta. Ficam veladas nesse momento, entretanto, as pressões que serão exercidas sobre os convertidos para que permaneçam obedientes à fé recém-abraçada e consagrem em seguida sua liberdade àquilo que a causa possa demandar. Por conseguinte, as exigências dirigidas a esses adeptos podem não ser menos excessivas que aquelas invocadas pela tradição histórica ou pela predisposição genética para legitimar suas práticas.

As comunidades de fé não podem se limitar à pregação de um novo credo com a intenção de unir futuros devotos. A devoção nunca estará assegurada se não for sustentada por rituais, isto é, uma série de eventos regulares - festividades cívicas, reuniões partidárias, serviços religiosos - de que os fiéis são convidados a participar como atores, de modo que sua filiação e seus destinos comuns sejam reafirmados, e a devoção, reforçada. Naturalmente haverá, contudo, variações na severidade e no volume das exigências feitas a esses integrantes. Quanto mais abrangente for a comunidade, mais opressiva tenderá a se tornar.

O carisma foi a primeira qualidade notada no estudo das influências profundas e indiscutíveis exercidas pela igreja sobre o fiel. Quanto mais forte for o carisma dos líderes, mais difícil é questionar seus comandos e mais confortável para os seguidores de suas ordens quando expostos a situação de incerteza.

Os esforços para preservar a ortodoxia e para impedir ou eliminar a heresia têm como objetivo o controle sobre a interpretação. O poder em questão visa a ganhar o direito exclusivo para decidir qual das interpretações possíveis deve ser escolhida e tornada obrigatória como a verdadeira. A busca de um monopólio do poder expressa-se escolhendo os proponentes das alternativas para o papel de dissidentes e é acompanhada por uma intolerância que pode ser corporificada em perseguição. Desse ponto de vista, toda disciplina que procura algo além da produção de conhecimento com a finalidade de controle se tornará alvo do ataque daqueles que investiram na ordem estabelecida.

Zygmunt Bauman

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