Adão e Eva não saem do Paraíso porque exercem seu livre-arbítrio. Eles saem do Paraíso porque escutaram não a si, mas ao outro. A serpente é a segunda intenção. Comer do fruto proibido é um engano plenamente tolerável para um ser que não tem compromissos com a perfeição. A falibilidade humana deveria ter tornado o pecado original irrelevante. Porém, o ser que maquina fins utilizando seus desejos, o ser que se deixa levar pelo olhar-fala do outro-serpente e se perde no labirinto de sua identidade, esse ser encontra o Eu. Quando Deus pergunta a Adão: "Onde estás?", Ele não o vê, ou melhor, Ele não o reconhece.
Tal pergunta não se refere à posição geográfica de Adão. Deus não teria dificuldade de localizar Adão, e a indagação é claramente uma pergunta dirigida para Adão fazer a si mesmo. Mais do que se ocultar, Adão desaparece, e Deus registra isso no campo da existência. Enquanto Adão pensa ter adquirido em sua consciência uma presença nunca antes experimentada, Deus dá falta dele na esfera da existência.
Adão e Eva somem do radar da existência porque querem se fazer deuses presentes. É essa localização de GPS que os erradica do Éden. No jardim original não havia longitudes e latitudes nas quais se posicionar. Onde quer que se estivessem, Adão ou Eva eram o centro do universo. Mas agora o homem estava no canto, na periferia absoluta do universo, e lhe parecia que este era o seu lugar, o seu caminho - um lugar possuído e assediado como seu.
Nilton Bonder
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