Ao deitar a mão a um estado, deve o conquistador refletir nas ofensas que precisa de fazer, e fazê-las todas de uma vez para não ter de renová-las todos os dias e poder, não as renovando, tranquilizar os cidadãos, bem como, beneficiando-os, ganhá-los para a sua causa. Quem por timidez ou maus conselhos procede de maneira diferente, parece estar sempre de espada em punho e nunca poderá ter confiança nos seus súditos, já que estes, a seu turno, pela força mesmas das contínuas e sempre recentes injúrias, igualmente nenhuma poderão ter nele. As injúrias devem, pois, fazer-se todas de uma só vez, para que, durando menos, ofendam menos e os benefícios aos poucos, para durarem mais. Cumpre, do mesmo modo, a um príncipe manter com seus súditos relações tais, que nenhum acontecimento bom ou mau faça variá-las. Se assim não for, quando os tempos adversos trouxerem a necessidade imprevista, ele não terá mais tempo para praticar o mal, e o bem que fizer de nada servirá, porque será considerado como uma imposição das circunstâncias e ninguém lho agradecerá.
Nicolau Maquiavel (O Príncipe; págs: 94 e 95)
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