3 de março de 2020

MEDALHAS DE PÓ

 
Medalhas podem ser tão significativas quanto qualquer coisa palpável, que, por si, estão sob o caráter superficial de tudo que, inevitavelmente, ficará para trás junto ao seu simbolismo. No final, a medalha é um fim em si, apenas um retrato de um conjunto de variáveis: da sua condição pessoal (física/psicológica) em relação aos demais (seus adversários), com uma dose das subjetividades de um punhado de árbitros dedicados àqueles poucos minutos que dura uma luta, e de um dia específico (campeonato).

Claro que é divertido por alguns dias, e deve ser comemorado. Uma medalha simboliza algo significativo, mas que se torna pequeno quando não é uma mera consequência. Fruto de um processo, das experiências, relacionamentos e da metamorfose sofrida ao mergulhar com tudo numa visão. Ver algo é um caminho sem volta, que abre uma bifurcação entre negar o que se viu, ou ir de encontro. Para qualquer atleta que busque a excelência, não são as medalhas que o fazem seguir a diante, dia após dia. O horizonte nunca é material, é pessoal, sobre uma visão construída a respeito de si e em busca de se concretizar. Não da passividade de se adaptar à realidade, mas o contrário, de adaptar a realidade à uma visão, nisso consistirá a luta em todos os sentidos. No processo, ao avançar, mais impelidos somos a nos encarar. Quanto mais tempo longe da zona de conforto, mais percebemos as ilusões que nós mesmos criamos. Até que fica cada vez mais claro que a luta sempre foi de nós contra nós mesmo.

CORAGEM é uma prática, como qualquer outra virtude. Técnica, estratégia, condicionamento físico etc, há manuais para isso, qualquer um aprende. Mas sua relação com o risco, com a incerteza e seu espírito diante do conflito é você encarando você mesmo. E aqui não há um caminho das pedras. PERSISTIR é a sina de todo lutador, cair/levantar, principalmente levantar, porque cair, todo mundo cai.. "Nada no mundo consegue tomar o lugar da persistência. O talento não consegue; nada é mais comum que homens fracassados com talento. A genialidade não consegue; gênios não recompensados é quase um provérbio. A educação não consegue; o mundo é cheio de errantes educados. A persistência e determinação sozinhas são onipotentes." (Calvin Coolidge). Essa guerra interna só acaba quando é chegada a hora de, inevitavelmente, encostar as luvas. Mas o que mata qualquer um, antes da hora, é a fuga, a negligência de si mesmo. Sêneca claramente combateu o bom combate ao dizer que: "é próprio dos grandes homens e de quem se eleva acima dos erros humanos não consentir que lhe tirem nada de seu tempo, e assim toda a sua vida é muito longa, porque se dedicou a si mesmo, não importando quanto tenha durado".

Diego Cosmo

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