30 de abril de 2019

RAÇÃO PARA AFIRMAÇÃO


Transparência não era a resposta universal que procurava. Você não pode simplesmente inundar o mercado com brócolis e esperar que as pessoas deixem de comer batatas fritas. Se um grande número de pessoas busca apenas informações que confirmem suas crenças, então inundar o mercado com dados sobre o governo não funcionará tão bem quanto os teóricos preveem. As informações acabarão distorcidas pelas máquinas de ruído de esquerda e direita e transformadas em mais "ração" para manter o país manipulado. (...).

Os mundos do consumo de alimentos e do consumo de informações não estão tão distantes assim: os campos da psicologia cognitiva e da neurociência mostram que informações podem ter efeitos fisiológicos sobre nossos corpos, assim como consequências relativamente graves e incontroláveis sobre nossa capacidade de tomar decisões. (...) Temos alguns tipos de informações que nos atraem naturalmente: afirmação é algo que todos gostamos de receber, e a confirmação de nossas crenças nos ajuda a formar comunidades fortes. (...) É um fardo cognitivo e de ego pesado demais nos cercarmos de pessoas das quais discordamos. (...) E aquilo que é pior para nós costuma ser mais barato de se fazer. (...) Assim como empresas alimentícias descobriram que se quiserem vender muitas calorias a preços baixos, devem empacotá-las com sal, gordura e açúcar - aquilo que todos desejam -, empresas de mídia aprenderam que afirmação vende muito mais do que informação. Quem deseja ouvir a verdade quando pode ouvir que está certo? (...).

Empresas alimentícias desejam fornecer-lhe o alimento mais lucrativo possível que o fará continuar comendo - o resultado disso são supermercados cheios de formas inimagináveis de produzir e consumir milho. Empresas de mídia desejam fornecer-lhe a informação mais lucrativa possível que o fará continuar sintonizado - o resultado disso são ondas aéreas repletas de medo e afirmação. São esses os produtos que fazem que os acionistas institucionais, donos dessas empresas, permaneçam felizes. (...) A afirmação daquilo em que você já acredita é o açúcar da mente. Uma dieta da informação saudável significa buscar a diversidade. (...) Significa afirmar nossas crenças apenas até certo ponto, ficar atento ao nosso próprio fanatismo e absorver o máximo de desafios que pudermos às nossas crenças. Receber perspectivas que concordam com você é uma coisa, mas receber apenas perspectivas desse tipo é ruim para você. (...).

Nossas empresas de comunicação não são neurocientistas, nem conspirativas. Não há nenhum plano elaborado que pretende afastar ou colocar os cidadãos uns contra os outros em jogos de azul contra vermelho. Um ponto de vista mais pragmático é pensar que nossa economia é orgânica. Por meio dos testes de tentativa e erro, nossas empresas descobriram o que desejamos e estão fornecendo isso para nós. Acontece que quanto mais disso elas nos oferecem, mais nós queremos. É como um loop de feedback de reforço automático. (...) A rede de tecnologia de personalização que descobre o que você deseja e continua lhe servindo isso, à custa daquilo que não lhe interessa. O resultado é diferente de quando realizamos testes A/B com base na opinião popular; essa personalização sistêmica pretende oferecer para nós o que nos é relevante.

Clay A. Johnson (A Dieta Da Informação; págs: 19, 21, 22, 52, 77, 84, 85 e 145)

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