28 de outubro de 2014

VIOLÊNCIA E RELIGIÃO

A heresia de Leonardo [Boff] tem a ver com aquilo que ele pensa sobre a igreja. Para ele Jesus jamais imaginou uma igreja hierárquica, burocrática, dotada de poder (houve um período em que ela chegou a ter exércitos) e que pretende ser a única detentora da verdade, a verdade inteira. Essa pretensão torna impossível o ecumenismo oficial. Porque, se uma instituição possui a verdade toda, ela não precisa ouvir ninguém. Seria uma perigosa perda de tempo. O pensamento do outro só pode ser mentira. É o outro que tem de ouvi-la. Para o Leonardo, ao contrário, a Igreja é formada por todos aqueles que sonham o mesmo sonho, o sonho que está contido na poesia do Pai-Nosso: um mundo de fraternidade, sem misérias, sem vinganças, sem violência.

O Rio de Janeiro é uma das cidades mais religiosas do Brasil e é a cidade mais violenta do Brasil. Qual é a relação que existe entre religião e violência? Ele lembrou que, na história do ocidente, as religiões sempre estiveram ligadas à violência. Os maiores horrores já foram perpetrados por causa de dogmas religiosos. Agora mesmo, para justificar a guerra contra o Iraque, o presidente Bush declarou que conversava com Cristo todas as manhãs. A loucura tem fortes relações com a religião institucionalizada. Os loucos pensam que suas idéias são as idéias de Deus. Pensa-se que a violência criminal vai se resolver com a violência policial. Mas onde se encontram as raízes da violência? Elas não se encontram dentro de nós mesmos? A violência só vai ser resolvida quando os homens aprenderem a ser mansos. Mas isso exige uma transformação espiritual. Era assim que pensavam Jesus Cristo, são Francisco de Assis e Gandhi...

O que é necessário compreender é que ninguém tem a verdade. Nós só damos palpites. No momento em que os indivíduos compreendem que suas verdades não passam de palpites, eles ficam mais tolerantes.

Rubem Alves (Um Céu Numa Flor Silvestre; pág: 105)

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