23 de dezembro de 2012

A ALMA QUER REENCONTRAR

O infantil não é o regressivo: é o eterno, o que sempre foi, o que sempre será, o objeto da saudade e da nostalgia, o objeto perdido que se espera reencontrar no futuro. (...) Uma conexão com a terminologia psicanalítica. A Feira das Utilidades é entidade consciente, regida pela razão instrumental, cujo objetivo é conhecer e dominar a "realidade" ("princípio da realidade"). A realidade exterior acontece dentro do tempo linear, histórico, que anda sempre para a frente, vetor que sai do passado e vai para o futuro. A Feira da Fruição, entretanto, é regida pelo tempo circular, que anda para trás, na busca dos objetos amados perdidos. Tempo da saudade. A alma não quer ir para a frente. A alma quer reencontrar, no futuro, aquilo que ela amou e perdeu, no passado. Para a alma, o que se espera, no futuro, é o reencontro do Paraíso Perdido. Relembro o curto verso de T.S. Eliot: "E o fim de todas as nossas explorações/ Será chegar ao lugar de onde saímos/ E conhecê-lo então pela primeira vez."

Rubem Alves (Variações Sobre o Prazer; págs: 107 e 108)

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