30 de outubro de 2014

SEI QUE NÃO VOU POR AÍ!

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "Vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali [...].
Não, não vou por alí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos [...].
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada. [...]
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios [...].
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga "Vem por aqui"! [...]
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!

José Régio (Cântico negro)

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