13 de dezembro de 2012

SUA EDUCAÇÃO

 
Há um mundo de diferença entre o ambiente moderno caseiro de informação eletrônica integrada e a sala de aula. A criança televisiva de hoje em dia está afinada com notícias "adultas" atualizadas a cada minuto - inflação, quebra-quebras, guerras, impostos, crimes, mulheres de biquíni - e fica desnorteada ao entrar no ambiente do século 19 que ainda caracteriza muitas instituições de ensino onde a informação é pouca, mas ordenada e estruturada por padrões fragmentados e categorizados, matérias e horários. É naturalmente um ambiente igual ao das fábricas, com seus inventários e linhas de montagem. A "criança" é uma invenção do século 17; ela não existia, digamos, na época de Shakespeare. Até aquele tempo, ela estava inserida no mundo adulto e não havia nada que pudesse ser chamado de "infância", como a entendemos atualmente.

A criança de hoje está crescendo em meio ao absurdo, porque vive em dois mundos, e nenhum deles a estimula crescer. Crescer - essa é a nossa nova tarefa, e é total. A mera instrução já não é suficiente. (...) O estudante não encontra meios de se envolver e não pode descobrir como o esquema educacional se relaciona com seu mundo mítico de dados eletronicamente processados e nem pode experimentar o que suas respostas claras e diretas lhe trazem. É urgente que nossas instituições educacionais se deem conta de que estamos em guerra civil entre esses dois ambientes criados por meios que não os da palavra impressa. A sala de aula trava hoje uma batalha de morte contra o mundo "exterior" imensamente persuasivo criado pelos novos meios informacionais. A educação deve sair do papel de instrução, por meio da imposição de modelos, para o de descoberta - a sondagem e a exploração e o reconhecimento da linguagem das formas. (...) O jovem de hoje rejeita as metas. Eles querem papéis a desempenhar. p-a-p-é-i-s. Quer dizer, envolvimento total. Eles já não querem metas ou tarefas fragmentadas, especializadas. (...) O dropout representa uma rejeição à tecnologia do século 19 tal como é manifestada em nossos estabelecimentos de ensino. Os teach-in representam um esforço criativo, passando o processo educacional de "pacote" para "descoberta". À medida que a plateia torna-se participante no drama eletrônico total, a sala de aula pode tornar-se a cena em que a plateia desempenhará um volume imenso de trabalho.

Marshall McLuhan (O Meio é a Massagem)

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