5 de agosto de 2011

O AMOR MORA NA SAUDADE


Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra. (...) A separação vem da compreensão. Para se ficar junto é melhor não entender. Isso é o oposto do que pensam os casais que vivem brigando. (...) Não é certo que, depois de se entenderem melhor, vão ficar juntos. (...) A razão nada sabe sobre felicidade. A razão é como aqueles gênios da garrafa. Eles não têm vontade própria; não têm imaginação. Só têm poder. (...) O coração, ele mesmo, desconhece a razão. (...) Pois a música é assim: a gente ama sem entender. (...) A linguagem clara e distinta mata a fantasia. (...) Dentro do que ninguém entende cabe tudo: miolo vira couve-flor e o corpo e a cabeça aprovam.

Não há promessas para amarrar o futuro. Há confissões de amor para celebrar o presente. (...) As coisas do amor não podem ser prometidas. Não posso prometer que, pelo resto da minha vida, sorrirei de alegria ao ouvir seu nome. Não posso prometer que, pelo resto de minha vida, sentirei saudades na sua ausência. Sentimentos não podem ser prometidos. Não podem ser prometidos porque não dependem de nossa vontade. (...) O amor sobrevive na esperança de reaparições. (...) Que a amada apareça tal qual Nossa Senhora, abraçada à lua; e o amado, tal qual Nosso Senhor, abraçado ao sol. Pode ser que vocês não acreditem: mas foi para esse momento efêmero de felicidade que o universo foi criado.

Rubem Alves (Retratos de Amor; págs: 17, 39, 43, 44, 54, 83 e 85)

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