21 de abril de 2011

O OUTRO LADO DA MONTANHA

Ao alcançar o ponto culminante da vingança pela subida lenta e tortuosa que empreendera, descortinara o abismo da dúvida do outro lado da montanha. (...) Um homem da têmpera de conde não se curvava por muito tempo à melancolia que invade os espíritos vulgares, conferindo-lhes uma originalidade aparente, porém matando as almas superiores. O conde disse consigo mesmo que, para ter quase chegado a se autocensurar por isso, era preciso que um erro houvesse se insinuado em seus cálculos. (...) O que falta hoje aos meus raciocínios é a apreciação exata do passado, pois revejo esse passado da outra ponta do horizonte. Com efeito, à medida que avançamos, à medida que nos afastamos, o passado se apaga, semelhante à paisagem através da qual caminhamos. Está acontecendo comigo o que acontece às pessoas que se feriram em sonho, olham e sentem o ferimento, mas não se lembram de o terem recebido. Então adiante, homem regenerado; adiante, rico extravagante; adiante, sonhador vigilante; adiante, visionário todo-poderoso; adiante, milionário invencível. Reconsidera por um instante essa perspectiva da vida miserável e indigente, volta a percorrer os caminhos para onde a fatalidade o empurrou, para onde o infortúnio o impeliu, onde o desespero o recebeu. Uma profusão de diamantes, ouro e felicidade hoje reflete seus raios nos cristais desse espelho em que Monte Cristo contempla Dantès. Esconde esses diamantes, conspurca esse ouro, apaga esses raios. Rico, encontra o poder; livre, encontra o prisioneiro; ressuscitado, encontra o cadáver."
 
Alexandre Dumas (O Conde de Monte de Cristo; págs: 1313 e 1314)

Um comentário:

Diego Cosmo disse...

Pow... "que jesus renasça sempre na sua vida"

Uma frase carregada de uma humanidade sem precedentes.