24 de março de 2017

UMA CRIANÇA EM MEIO AOS ADULTOS


Um homem de aparência lamurienta, egoísta, taciturno e vagamente insatisfeito com a vida. Esse é o tipo de homem que ele é. Ou quase isso. Pois defini-lo não é tarefa fácil. É impossível focá-lo diretamente. Ele ofusca todo mundo - o intelectual, o simples, o astuto, e até mesmo os que o veem todos os dias. Em momento algum se pode fazer dele um retrato firme, sólido, e afirmar: "Este é Charles Chaplin". Só se pode dizer: "Este é Charles Chaplin, não é?". Ele é como um vislumbre cintilante, ora desta faceta, ora daquela outra - azul, verde, amarelo, carmim -, sucessivamente. Um brilhante é um similar apropriado; ele é tão duro e reluzente quanto, e seu brilho também é errático. E se você o cortar, descobrirá que não há uma fonte pessoal daquelas luzes inconstantes - tanto no brilhante quanto em Charles Dickens; elas são só lampejos de genialidade. Duvido que ele mesmo possa se definir; os gênios raramente podem. [...]

No mais, ele é volúvel. Geralmente, é tão gentil e terno quanto qualquer um poderia ser, mas também pode ser desatencioso. Ele se encolhe diante das luzes da ribalta, mas sente falta delas se não estiverem postas sobre ele. É profundamente tímido, mas, mesmo assim, adora ser o centro das atenções. Um solitário nato, conhece a fascinação da multidão. Ele é real e verdadeiramente modesto, mas muito ciente de que ninguém é como Charles Chaplin. Ele espera fazer tudo do seu jeito e, geralmente, consegue. A vida o embaraça; ele quer asas. Ele quer comer seu pedaço e possuir o bolo ao mesmo tempo. Ele quer uma peau de chagrin para conseguir todos os seus desejos, mas a peau de chagrin não deve diminuir  de tamanho. Ele exige demais da vida e das pessoas, e, porque essas exigências não podem sempre ser atendidas, ele fica perplexo e irritado. Exige lealdade dos amigos, enquanto ele mesmo é casual. Tem como certa a continuidade da amizade deles. Ele gosta de aproveitar o melhor do atual sistema social, enquanto, em seu íntimo, é o comunista mais ferrenho. Cheio de generosidades impulsivas, também é capaz de mudar subitamente, indo de um oposto ao outro[...]

Leva-se muito a sério, mas tem um senso de humor cortante sobre si mesmo e suas realizações. Ostenta uma humildade genuína sobre a posição que conquistou; mas, como a maioria dos artistas realmente humildes, não gosta que as pessoas considerem essa humildade justificada. Ele será o camarada mais doce com quem você já esteve por duas horas; então, sem causa aparente, ele será todo petulância e aspereza. Como uma criança, seu interesse é rapidamente cativado, e ele se entedia rapidamente. Essencialmente, ainda é londrino, mas não é mais inglês - se alguma vez o foi. Em momentos de excitação, e em toda a sua obra, o londrino aparece. Outras vezes, ele é americano nos modos, no discurso e na atitude. De modo algum, concorda com a reservada personalidade inglesa, e dá pouca importância à Inglaterra ou aos assuntos ingleses[...]

De maneira alguma, desdenha o dinheiro, mas a posse de grandes somas significa pouco para ele. O dinheiro representa segurança econômica, nada mais. Ele gosta de comidas burguesas simples - em sua visita à Inglaterra, ficou tagarelando sobre arenque defumado, dobradinha, coração de carneiro - e, embora tenha um vasto guarda-roupa, prefere as roupas velhas sem afetação. A bebida não o interessa, e ele fuma um (ou nenhum) charuto, contra os vinte que eu mesmo fumo. É um dos homens mais honestos. Se você pede a opinião dele sobre alguém ou alguma coisa, vai recebê-la de forma direta e clara. A maioria de nós tem algum traço de logro sobre nós mesmos; Charles não tem nenhum. Você pode aceitar qualquer coisa que ele diga como a verdade conforme ele a vê. Um ponto de sua honestidade é o seu egoísmo. A maioria de nós é egoísta, de um modo ou de outro, mas ficamos aborrecidos quando alguém nos acusa disso[...] Mesmo que as pessoas egoístas sejam as mais agradáveis. Pois, agradando a si mesmas, elas mantêm um comportamento alegre com aqueles que as rodeiam. Charles vive como a maioria de nós viveríamos, se tivéssemos a coragem necessária de nos encarar como realmente somos - por mais perturbador que esse "realmente" pudesse ser para a nossa autoestima. Ele só faz o que quer fazer. Se qualquer compromisso confronta seu humor momentâneo, ele não o cumpre, e se perguntam por que não o cumpriu, ele responde, imperturbável: "porque eu não queria". Quaisquer sejam suas companhias, ele é simples e espontâneo. Pode estar sempre interpretando um papel, mas nunca faz pose; ele odeia simulação...

A vida caseira dele, apesar dos secretários japoneses, cozinheiros e motoristas, não é glamourosa ou agitada como algumas pessoas imaginam. Ele me disse que leva uma vida tão monótona quanto um contator londrino. Ele não é superpopular naquele asilo de lunáticos - dificilmente se poderia esperar que Hollywood soubesse o que fazer com um poeta -, e eles o deixam sozinho[...] A mente dele é extraordinariamente rápida e receptiva, e ele tem uma boa memória também. Lê pouco, mas a partir de alguns poucos fatos elementares sobre um assunto altamente técnico, a mente dele pode trabalhar e conversar com um perito naquele assunto de tal modo que fará o perito pensar. Daí, parece que ele lê muito e é muito culto, quando, na verdade, sua intimidade com os livros é pequena. Com pouco interesse nas pessoas, ele, ainda assim, possui um olhar mais agudo e vivaz do que qualquer romancista (com suas excentricidades e seus segredos ocultos) que eu conheça. É inútil fingir diante dele; ele pode descobrir seu blefe ainda enquanto está sendo apresentado a você[...]

Agora, ele tem 42 anos [1931], mas não pode viver com essa idade, e nunca irá. A atitude e o interesse dele são sempre para a juventude e as coisas dos jovens. Ele não se importa com o passado histórico; seu lar espiritual é o seu próprio tempo. É uma criança de sua época, e sua mente não encontra nada em que se interessar além da própria infância. Certa vez, ele me disse: "Eu sempre me senti como uma criança em meio aos adultos".

Publicado no City Of Encounters, em 1933, por Thomas Burke

David Robinson (Chaplin - uma biografia definitiva; págs: 449, 450, e 451)

22 de março de 2017

ANTROPOFAGIA ROMÂNTICA 5,5%

Mesmo já prevista,
Repetidamente,
Sede à primeira vista.
Ao dedilhar do violonista,
Tilinta-se o encontro.
Vejo-me num fundo,
Reflexo olhar profundo,
Flertando como um profano.

Temperamental,
Nos misturamos,
Numa Dose letal.
Desce frio,
Desce quente,
Se esquentado,
Esfria a mente.
Da insanidade,
De todo cíclico,
A tola maldade.
Para a boca,
Ao sanitário,
Não há idade.

Diego Cosmo

14 de março de 2017

HTML (HYPERTEXT MARKUP LANGUAGE/LINGUAGEM DE MARCAÇÃO HIPERTEXTUAL)


Uma coleção de comandos de formatação que criam documentos hipertextuais ou, mais simplesmente, páginas da Web. Toda página da Web é criada a partir de código HTML, que é transmitido para o navegador (browser) do usuário. O navegador interpreta então os comandos de formatação e exibe na tela um documento contendo texto formatado e gráficos.

Pierre Lévy (Cibercultura; pág: 264)

O CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO


Toda mensagem, em quaisquer tipos de signos, verbais, visuais ou mesmo sonoros, está sempre prenhe de índices contextuais, situacionais, históricos, culturais, ideológicos, políticos que apontam, de modo mais ou menos explícito, para o contexto representado na mensagem. (...) O contexto tem, pelo menos, quatro dimensões: física, cultural, sócio-psicológica e temporal. A dimensão física refere-se ao ambiente tangível e concreto no qual a comunicação ocorre, exercendo alguma influência sobre o conteúdo do que é comunicado. A cultural se refere às regras e normas dos comunicadores, crenças e atitudes que são transmitidas de uma geração a outra (...) Neste campo, entram em cena as formas de cultura a que os processos comunicativos dão origem e nas quais germinam, por exemplo, cultural oral, cultural da escrita, cultura de massas, cultura das mídias, cibercultura. Em um nível ainda mais macro, as mídias são também estudadas não como simples canais para transmitir informações, mas como conformadores de novos ambientes sociais, como é o caso atual das comunidades virtuais no ciberespaço (...). A sócio-psicológica inclui os papéis sociais desempenhados pelas pessoas, a formalidade ou informalidade, seriedade ou humor da situação etc. A temporal inclui desde o momento do dia em que a comunicação se dá até o modo como ela se insere na sequência temporal de eventos comunicativos. O ruído é algum tipo de pertubação que distorce a mensagem. Em casos extremos, o ruído pode impedir que a mensagem enviada pela fonte chegue até o receptor. Em casos normais, algum nível de ruído é inevitável pelo simples fato de que a mensagem emitida sempre difere da mensagem recebida. Há três tipos de ruídos: físico (tudo que interfere fisicamente na transmissão da mensagem), psicológico (idéias preconcebidas) e semântico (significados mal-entendidos).

Lucia Santaella (Comunicação & Pesquisa; págs: 84, 88, 91 e 93)

7 de março de 2017

CYPHERPUNK


Um Cypherpunk é alguém interessado nos usos da criptografia por cifras eletrônicas para aumentar a privacidade pessoal e - nas palavras dos próprios - "proteger-se contra a tirania de estruturas de poder centralizadoras e autoritárias, especialmente o governo". Não confundir com Cyberpunk, um grupo totalmente diferente.

Pierre Lévy (Cibercultura; pág: 263)

ARPA (AGÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE DEFESA DOS ESTADOS UNIDOS)


O objetivo da ARPA era criar um sistema [Arpanet] capaz de ligar computadores geograficamente distantes entre si através de um conjunto de protocolos (programas) recentemente desenvolvido, chamado TCP/IP [Protocolo de controle de transmissão/Protocolo de Internet]. A tecnologia desenvolvida para a Arpanet foi colocada à disposição das universidades e centros de pesquisa e formou o embrião da Internet.

Pierre Lévy (Cibercultura; pág: 261)

DESLOCAMENTO DO CENTRO DE GRAVIDADE INFORMACIONAL

Instrumentos automáticos ou semiautomáticos de filtragem, de navegação e de orientação no conteúdo das redes e das memórias permitirão que cada um obtenha rapidamente a informação que lhe seja mais pertinente. O que não implica, necessariamente, o surgimento de antolhos eletrônicos, já que "mais pertinente" pode ser, se eu quiser, algo que me afaste de meus temas habituais. Essas novas capacidades de filtragem fina e pesquisa automática em grandes massas de informações tornarão provavelmente cada vez menos úteis os "resumos" destinados ao menor denominador comum das massas anônimas. Deslocarão o "centro de gravidade informacional" para o indivíduo ou o grupo em busca de informações.

Pierre Lévy (Cibercultura; pág: 248)

6 de março de 2017

COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

O indivíduo, embora continue sendo anônimo, na maioria das vezes, para o comunicador, poucas vezes é anônimo no seu ambiente social. Geralmente, é membro de uma rede de agrupamentos primários e secundários - família, grupos de amizade, círculos ocupacionais, e assim por diante - que influenciam suas opiniões e atitudes. E não podem deixar de afetar a maneira como o indivíduo é exposto à comunicação de massa: como ele interpreta, como reage a qualquer comunicação específica, e até onde pode ou poderá modificar seu comportamento em obediência à mensagem.

Armando Sant'Anna, Ismael Rocha e Luiz Dabul (Propaganda: Teoria-Técnica-Prática; pág: 4)

COMUNICAÇÃO DE MASSA


A transmissão em rede nacional de uma convenção política é comunicação de massa; a transmissão, em circuito fechado, das operações de uma linha de montagem industrial, controlada por um engenheiro, não. Um filme de Hollywood é comunicação de massa; um filme doméstico, sobre as férias da família, não o é, se sua exibição for restrita. (...) Massa (em que há um grupo com alguma característica comum, mas se desconhecem as características de cada indivíduo). (...) O sociólogo Herbert Blumer (in Cohn, 1978) separa quatro componentes sociológicos que, em conjunto, identificam a massa. Primeiro: seus membros podem vir de qualquer profissão e de todas as camadas sociais. A massa pode incluir pessoas de diversas posições sociais, de diferentes vocações, de variados níveis culturais e de riqueza. Segundo: a massa é um grupo anônimo ou, mais exatamente, composto de indivíduos anônimos. Terceiro: existe pouca interação ou troca de experiências entre os membros da massa, exceto quando fazem parte de um clube de compras e trocam experiências sobre o que compram e o uso que fazem dos produtos (a internet criou um novo conceito dentro do processo de integração de consumidores: quando nos nichos, ou até em "nano-nichos", os consumidores se conhecem e se retroalimentam com informações e opiniões sobre produtos e serviços adquiridos). (...) Por fim, o Quarto componente sociológico: a massa é frouxamente organizada e não é capaz de agir de comum acordo e com a unidade que caracteriza a multidão.

Armando Sant'Anna, Ismael Rocha e Luiz Dabul (Propaganda: Teoria-Técnica-Prática; págs: 2, 3 e 4)