9 de dezembro de 2016

MANIFESTAÇÃO

Congresso Nacional (2013)

Não acredito em manifestação pacífica. Dilma caiu, Cunha caiu, é verdade. Mas não se engane, Caíram porque perderam suas brigas políticas e não por pressão popular. A briga para saber quem ia mandar no galinheiro daqui para frente. Brasília é longe da Av. Paulista ou do Rio. Só existe uma imagem, umazinha só, de todas essas manifestações que assusta. Aquela de 2013, quando o povo subiu no Congresso e por pouco não invadiu os prédios. Aquilo assusta. Manifestação aos domingos, com a família, com a camisa da seleção e tirando fotos para o instagram servem para mostrar nosso descontentamento. Isso sim. Mas não mudam nada. Manifestação popular tem que meter medo. Tem que parar o país. Tem que mexer no bolso. Tem que ser durante a semana. Tem que ter desobediência civil. Tem que ter greve geral.

Mentor Neto


A revolta não visava o poder, não pretendia vencer, não podia ganhar nada. Era somente um grito, uma convulsão de dor, uma vertigem de horror e indignação. Até que ponto um homem suporta ser espezinhado, desprezado e assustado? Quanto sofrimento é preciso para que um homem se atreva a encarar a morte sem medo? E quando a ousadia chega nesse ponto, ele é capaz de pressentir a presença do poder que o aflige nos seus menores sinais: na luz elétrica, nos jardins elegantes, nas estátuas, nas vitrines de cristal, nos bancos decorados dos parques, nos relógios públicos, nos bondes, nos carros, nas fachadas de mármore, nas delegacias, agências de correio e postos de vacinação, nos uniformes, nos ministérios e nas placas de sinalização. Tudo que o constrange, o humilha, o subordina e reduz sua humanidade. Eis os seus alvos, eis a fonte de sua revolta, e o seu objetivo é sentir e expor, ainda que por um gesto radical, ainda que por uma só e última vez, a sua própria dignidade.

Nicolau Sevcenko (A Revolta da Vacina - Mentes Insanas Em Corpos Rebeldes)

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