7 de julho de 2016

AUTOBIOGRAFIA DE UMA ANGÚSTIA

Uma dose dupla em homenagem a dor. No plural em referência aos olhos. A perspectiva do zoom é ressignificante. Num horizonte à vista há dois mares. Beleza e tragédia pairam e caem do ar na insanidade de um sorriso lagrimoso. A falta de sentido, mãe da liberdade, nos convida a ensaiar o voo livre que por sua vez fez a contingência vomitar nas mãos as rédeas da própria existência, que se impõe, sem bater na porta com a essência que socorre. O homem não veio do barro, mas do barroco. Que a velhice queime em nome da luz que se finda, que o espectro do olhar melancólico e lúcido de quem se depara com a pupila dilatada da morte nos advirta. Aos bipolares, eles são mais coerentes do que supõe nosso charme.. Somos caos, não que todo o esforço da dita ordem seja uma negação, apenas uma tentativa de levarmos o vazio de certas facetas. Um relógio em busca das horas que nunca saberá e que jura poder saber um dia. É válido. Afinal, nada mais assustador do que o desconhecido. O teatro barato da mais fina racionalidade não nos foge o caráter tanto quanto a mais lambuzada emocionalidade. No jogo revelamos os lados de um suposto puritanismo calcado no mais divino profanismo. Nos encontramos na puberdade da humanidade, em meio ao bônus da energia brilhante do idealismo. A honra da selvageria de nossos impérios ruem ao lampejo do grande messias, longe de pudor, o amor. A utopia é acreditarmos sermos capazes mas milagres acontecem de verdade. Uma boa notícia. O que colore a vida é tão palpável quanto nossas memórias de sangue, que nos constrói e destrói.

A consciência é uma arma a borbulhar, um caminho sem volta, a mordida proibida, no qual somos todos convidados pela atraente e indisfarçável transgressão. Fadados estamos de modo a simpatizarmos pelo status quo, o inevitável assusta. A morte é o lembrete-mor, está para nós como a vida está, eis a tragédia humana. Tudo passa, seja lá o que a gente acha que passa. No melhor das hipóteses, a mais bela vida alcança a morte. Não há felicidade que escape a frustração que a aguarda. Não há tristeza imune a felicidade. Quanta construção e desconstrução uma vida suporta? Quantos encontros e desencontros? É o que dá tempo, andar tropeçando, sob o consolo de ficarmos mais criativos na arte de fazermos das quedas passos elegantes. Sempre faltará, arrependerá, escolher é excluir. Embora, sempre esquecemos que o sempre nem sempre é sempre. A vida nos suplica calma, mas faz questão de sacanear, queima, gela e até nos presenteia. Do começo ao fim, a gravidade nos lembra em que direção realmente estamos indo. No qual sempre soubemos apenas duas coisas: Nada e porra nenhuma.. Para todos os efeitos, daqui ninguém sai, no pior - ou melhor - das hipóteses, eterniza-se na natureza. É um palpite. Transcendemos a nós mesmo ao ponto de nos angustiarmos por conta própria. Diante do cenário, o convite é fazer da vida um fim em si, e em pouco tempo, eis a sabedoria. Nos falta estrutura ou ignorância? Espero ter o privilegio de não ter tanta necessidade de respostas. Até lá me resta a inútil inquietude cética... Porém, o diabo já não me convence do conto da imortalidade.

Desconhecido

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