20 de junho de 2016

ESPERE MENOS, AME MAIS

Acredito que as frustrações das pessoas, o desânimo, sempre "estar aquém", vontade de desistir em diversas áreas da vida - trabalho, religião, relacionamentos, família - nascem de suas idealizações, expectativas exageradas, o desejo por uma situação ideal. E ainda por cima, o jogo de aparências da sociedade nos faz sentir que estamos ficando para trás, perdendo algo, fracassando em muitos aspectos. Mas deixa eu contar um segredo: há muita encenação, mito, mascaramento nas pessoas que vemos passar. "A grama do vizinho é mais verde", diz o ditado popular. Pessoa "bem resolvida" é um mito. Bem resolvida é a pessoa que já morreu. Casais bem resolvidos, filhos bem resolvidos, mãe bem resolvida, pai bem resolvido, relacionamentos bem resolvidos... tudo isso é um mito que nos enche de uma culpa indevida. Nós somos seres humanos, frágeis tentando dar conta da sobrevivência, da criação, da educação, da espiritualidade. Tudo o que conseguimos ser é humanos. E esse é o pé de igualdade do rico, do pobre, do casado, solteiro, viúvo, desquitado, da mãe/pai solteiro, do filho, adolescente. De perto, todos nós somos um lindo drama. Uma história complexa, rica, cheia de potencialidades. E nessa caminhada podemos ter a graça de encontrar pessoas humanizadas. Podemos ser a graça de pai, mãe, parceiros, filhos, irmãos humanizados, que não esperam do outro mais do que nós mesmos podemos dar. Siga o conselho de Nietzsche "espere menos, ame mais". O melhor lugar é onde você está. Você pode fazer o ambiente. O tempo com seus queridos, ainda que seja pouco, pode ter a qualidade de uma eternidade se você não esperar mais nada. Você pode fazer as pazes com sua história, com suas contradições, com seus fracassos, com sua personalidade, com seu jeito esquisito, com suas manias. Quem disse que você precisa ter um "perfil ideal" para ser feliz, aceito, amado? Todos nós, feios, bonitos, altos, baixos, magros, gordos, tímidos, carismáticos, "pavio curto", culto, indouto, enrolados em nossas fragilidades somos dignos de amor e perdão. Não se culpe por ser humano! Ao seu lado você pode encontrar um outro humano e compartilhar a vida.

Talvez maturidade não seja mais do que ir se reconciliando com a vida, consigo mesmo, com as relações, com o tempo. Na era do descartável desistimos facilmente das pessoas, mas o perdão é uma doce janela para um novo horizonte. Mas reatar algumas relações talvez seria mais violento, forçar a barra. Definitivamente, na estrada colhemos também desafetos. Reconciliação seria mais do que fazer as pazes num amor fofo. Seria acolher a imperfeição minha, do outro, respeitar os limites. Lamentar o que não foi e seguir sem ressentimentos, livres da amargura. A "química" com fulano não rolou. Que pena, mas não deveria ser obrigação. Percebo que cicrano se esforça em ser meu amigo, mas eu não tenho a mínima identificação. Paciência. A essa altura da vida "tal guinada" seria muito improvável. Melhor reinventar a vida dentro dos limites que me restam. Eu tinha tudo para ser amigo de beltrano, mas ele se desencontrou com minha esposa e nos inviabilizou. Chato, mas acontece! Fui rejeitado. Quem me rejeitou não tem a versão definitiva de mim. Coragem de ser! Tal projeto deu em água e areia. Que pena, era tão lindo! Mas vou virar a página e escrever outro capítulo. Se uma esperança não deu, mudo de esperança! Aquela pessoa não se afeiçoa a nada do que faço; não concorda, não me aceita. Bola pra frente. Ninguém é unânime! Alguém me deu as costas porque divergimos ideologicamente, na religião, esporte, política, visão de mundo. Adeus! A vida me sorriu amarelo, me aprontou uma peça, me brindou com tragédia; levou o melhor de mim... Calma! Aviões caem, pessoas morrem... Mais determinante do que a vida lhe fez, é o que você fará com o que a vida lhe fez! Percebo que meu pai/mãe tem uma relação mais fluente e cúmplice com meu irmã. Normal. Mas me apego docemente as nossas memórias em comum! Meu parceiro é atrapalhado no amor, não foi exatamente isso que idealizei. Mas ele tem outras linguagens que, se eu esperar menos e amar mais, me sentirei mais amado. Percebi que eu sou um mosaico de contradições, ambivalência. Dane-se! Vou procurar viver da melhor maneira a equacionar essas ambiguidades porque a expressão "bem resolvido" cai bem para quem já morreu, não para um vivo. Para se reconciliar com a vida, aprender a se despedir.

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