7 de junho de 2016

A CENSURA DO "BEM"

Mamonas Assassinas

Se os Mamonas Assassinas aparecessem hoje provavelmente, não teriam carreira. Algum membro do Ministério Público careta e autoritário teria proibido muitas de suas letras em nome do bem e do “respeito” a algum grupo de ressentidos. Aliás, bem no espírito iconoclasta dos Mamonas, eu diria que ficamos tão atentos a “censura do mal”, que esquecemos que a censura sempre se vê como sendo do bem. O mal político sabemos identificar mas hoje é o bem político que se traveste de cordeiro pra corroer a liberdade de expressão. Todo o mundo com medinho. Muita gente que atua no mundo público da cultura e do pensamento hoje é medrosinho. Pra garantir a janta e a foto, só diz o que todo mundo bacana quer ouvir. E gente bacana é sempre gente boba.

As letras dos Mamonas são, hoje, um documento histórico. “Minha pistola é de plástico (quero chupar-pa) ... Tem gay que é Mohamed tentando camuflar” (Robocop Gay). Já aqui alguém teria gritado em nome de duas “minorais oprimidas”, gays e muçulmanos. Suas letras são um documento histórico de como o Brasil encaretou. Mais vinte anos e a mediocridade será absolutamente correta. Nas escolas ninguém mais respirará, nas universidades já não se respira, na mídia teremos apenas “causas” a defender e nenhum conteúdo a se produzir.

O mundo artístico vai, aos poucos, virando um espaço sem atmosfera, onde não se tem ar pra respirar porque (quase) todo o mundo está preocupado com política e militância. Nelson Rodrigues anteviu isso quando dizia que todo artista ruim tem uma causa, mas nenhuma obra de fato. Se não bastasse ser apenas um horror por si só, isso tudo é também brega. Artista que quer ser “do bem” é, na verdade, um mau artista. Assim como poesia sincera é sempre poesia ruim, como pensava Oscar Wilde, que se vivesse hoje, seguramente, vomitaria em cima dos politicamente corretos.

E que tal esse trecho da música “Lá vem o alemão”:

"Toda vez que eu lembro de você
Me dá vontade de bater, te espancar
Oh meu amor
Só porque ele é lindo, loiro e forte
Tem dinheiro e um Escort
Como modess você me trocou"

A histeria seria plena. Estímulo a violência! Preconceito contra pobre, pretos e fracos! Falta de respeito com a menstruação! Enfim, assim como o Escort, como carro chique, atesta o passado em que viveu os Mamonas, suas letras atestam que hoje todo o mundo tem medo de todo mundo. Isso é sintoma de censura, só besta e mentiroso não vê.

Luiz Felipe Pondé

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