30 de maio de 2013

NÃO TENHO MEDO

Não tenho medo de não atingir metas, conquistar grandes objetivos, chegar ao topo de uma carreira, seja ela qual for. Não tenho medo de ser pobre, de não ter uma casa grande e luxuosa num bairro nobre da cidade, ou não ter um carrão do ano na garagem. Não tenho medo de não ser um cara famoso, influente, importante, admirado ou invejado. Não tenho medo de não ter um emprego que pague tubos de dinheiro, me dê estabilidade e me permita comprar o que quiser sem me pesar tanto no final do mês. Não tenho medo de ficar só, sentir-me abandonado ou não ter pessoas que gostem de mim de verdade. Não tenho medo de enfrentar a crítica dos que discordam das minhas ideias e do meu modo de pensar, do meu estilo de vida e do meu jeito de viver. Não tenho medo de me sentir atrasado ou parado no tempo/espaço da evolução tecnológica. Não tenho medo de ficar sem dinheiro, perder tudo o que tenho investindo em um sonho ou mesmo comprando velharias. Não tenho medo de ser taxado de progressista ou reacionário, louco, estranho ou idealista inveterado. Não tenho medo de mudar e errar e voltar atrás e errar de novo e voltar mais atrás ainda. Não tenho medo de ser intelectualmente pobre e ignorante diante de todo o conhecimento que existe. Não tenho medo de não ser sábio frente aos meus iguais, nem tenho medo de ser o menor entre os pequenos. Não tenho medo de começar do zero, recomeçar ou desistir. Não tenho medo de ser apagado da história e morrer tão desconhecido quanto fui no dia em que eu nasci. Por fim, não tenho medo de saber que eu talvez devesse ter medo de tudo isso. Mas eu tenho um medo. Sim, disso eu realmente tenho medo: de ser infeliz. É isso, é disso que eu tenho medo.

24 de maio de 2013

TODA FORMA DE AMOR

Há o amor segundo Platão: "Eu te amo, tu me fazes fal­ta, eu te quero."

Há o amor segundo Aristóteles ou Spinoza: "Eu te amo: és a causa da minha alegria, e isso me regozija."

Há o amor segundo Simone Weil ou Jankélévitch: "Eu te amo como a mim mesmo, que não sou nada, ou quase nada, eu te amo como Deus nos ama, se é que ele existe, eu te amo como qualquer um: ponho minha força a serviço da tua fra­queza, minha pouca força a serviço da tua imensa fraqueza..."

Eros, philia, agapé: o amor que toma, que só sabe gozar ou sofrer, possuir ou perder; o amor que se regozija e com­partilha, que quer bem a quem nos faz bem; enfim, o amor que aceita e protege, que dá e se entrega, que nem precisa mais ser amado...

Eu te amo de todas essas maneiras: eu te tomo avida­mente, eu compartilho alegremente tua vida, tua cama, teu amor, eu me dou e me abandono suavemente... Obrigado por ser o que és, obrigado por existir e por me ajudar a existir!

André Comte-Sponville

22 de maio de 2013

NOSSO ESTRANHO DESTINO



"É verdade, o cachorro morreu. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre!"
 
Chicó

Ariano Suassuna (Auto da Compadecida; pág: 43)

18 de maio de 2013

O ESVAZIAR

A Encarnação é a kenosis (esvaziamento) do deus vingativo, do deus que está no controle, do deus que manda matar, do deus domesticado e de um povo, do deus transcendente...

A kenosis é a recusa de Deus de se identificar com o Poder, com o Motor Imóvel, com o autoritarismo, arbitrariedade, de escrever a história à parte dos homens.

A encarnação é a afirmação plena do humano; é Deus gostando e ensinando a ser gente, é Jesus de Nazaré nos inspirando a abrir mão de pretensões tolas tais como a posse da Verdade, a religião verdadeira, uma fé mágica que arredonda a vida, intolerância religiosa.

Evangelho/encarnação/kenosis é deus deixando a companhia de anjos para se aproximar do homem, da mulher, do gay, da prostituta, do religioso, do judeu, do grego, das crianças, do índio; de todas as gentes de toda cultura, tribo e nação.

Márcio Cardoso

11 de maio de 2013

O CAOS É UMA ESCADA


- Fiz o que fiz pelo bem do reino.
- O reino? Quer saber o que é o reino? É as centenas de espadas dos inimigos de Aegon. Uma história que concordamos em contar repetidas vezes até esquecermos que é uma mentira.
- Mas que nos resta quando abandonamos a mentira? Caos. Uma cova aberta à espera de nos engolir a todos.
- O caos não é uma cova. O caos é uma escada. Muitos que a tentam subir falham e nunca podem tentar outra vez. A queda quebra-os. A alguns é dada a oportunidade de trepar, mas recusam. Agarram-se ao reino, aos deuses ou ao amor. Ilusões. Só a escada é real. Trepá-la é tudo o que existe.

Game Of Thrones (3º Temporada/Ep: 06)

8 de maio de 2013

MEU TEMPO TEM NOME


Nunca vi o tempo distorcer tanto... O relógio desaprende a contar qualquer coisa quando te vejo e aprende a cantar desafinadamente os minutos quando nos despedimos. Teu beijo é o eterno num fechar de olhos, te abraçar me leva as mais variadas eternidades antes impensáveis. Teu sorriso? Nem ouso esboçar mais nada, qualquer palavra não chega aos pés de descrever o teu cheiro, teus gestos e todas as sutilezas que ensaio entender. Melhor parar por aqui antes que eu comece a me iludir achando que posso explicar algo do que ando a viver contigo...

Diego Cosmo