26 de setembro de 2011

FIDELIDADE AO EVANGELHO

A fidelidade consiste em nosso grau de conformidade com os dogmas de uma igreja que também deve se ocupar de buscar novas respostas às novas perguntas, em lugar de se ancilosar no passado em nome da perfeição? É fidelidade o que damos quando, pretendendo ser fiéis, nos negamos a refletir junto com o restante do mundo sobre as questões que determinarão o futuro da vida neste planeta e a autenticidade da vida nesta igreja, tais como: o aborto, a eutanásia, o armamentismo nuclear, o papado, a colegialidade, o sexismo e uma ciência desenfreada, como se Jesus não tivesse pensando a partir de uma perspectiva nova nos leprosos e no pecado, nas mulheres e na vida, nos sacerdotes e no povo, em Deus e nos fariseus?

Muito pelo contrário. Não é a nenhuma instituição, por muito elevados que sejam seus objetivos, que devemos ser fiéis. A fidelidade, pura e simplesmente, busca passo a passo, lugar a lugar e projeto a projeto, unicamente a vontade de Deus e a apaixonada presença do Evangelho em um mundo que se sente mais confortável com credos do que com a religião, que está mais familiarizado com a igreja do que com Cristo, mais comprometido com a caridade do que com a justiça, mais involucrado na opressão do que na igualdade, mais dedicado a manter a fé de nossos pais proscrevendo os pronomes femininos dos textos sagrados do que a libertar o ímpeto da Boa Nova. Realmente, devemos analisar cuidadosamente a que somos fiéis, a fim de que a fidelidade não seja a nossa ruína.

Joan Chittister

Andrés Torres Queiruga (Fim do Cristianismo Pré-Moderno; págs: 64 e 65)


Encontrar clareza e tomar as decisões justas, descobrindo o sentido autêntico da Verdade que leva em seu seio, é antes de tudo tarefa da igreja toda, como comunidade viva e corpo organizado. Aí se enraíza justamente o ponto decisivo: a verdade revelada está na igreja, cristalizada como escrito na Bíblia e encarnada nas diversas formas da tradição. E isto implica que ela está sempre "situada" em contextos concretos e "mediada" por densas camadas de idéias, usos e até abusos culturais. É preciso, portanto, trazê-la à atualidade de cada geração e de cada época, de sorte que fique livre de falsos vínculos e que, dizendo o mesmo, o diga de outra maneira: só poderá manter a fidelidade encarando os riscos da mudança. Justamente seu caráter contextual obriga a compreender que sua intenção profunda deve ser retraduzida em cada etapa histórica ou forma cultural, conscientes de que "o apego às formas de expressão tradicionais levou, com maior frequência, à heresia e não à ortodoxia."

Andrés Torres Queiruga (Fim do Cristianismo Pré-Moderno; págs: 149, 150 e 169)

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