20 de julho de 2011

A VIDA SOBRE AS ALMAS

O movimento evangélico ainda considera uma antropologia grega, que separa corpo, alma, espírito. Essa tricotomia (em alguns círculos, dicotomia) é estranha à cultura semita e ao ensino de Jesus. Alma, na tradição judaica, é vida. Quando o Novo Testamento ensina sobre a salvação de almas, a leitura deve remeter à vida e não ao elemento etéreo, incorpóreo da humanidade que os gregos acreditavam puro. Imaginava-se que a alma estava aprisionada ao corpo. E que na morte a alma sobrevivia em alguma esfera do mundo dos espíritos. E que o corpo se desfazia na terra. Esse pressuposto, de origem neoplatônica, migrou para o cristianismo. Aceitando-se que há uma alma, os esforços missionários, as iniciativas diaconais, tudo se revolverá em salvá-la. Contudo, ao ler-se que a alma é a vida, o ser humano em sua integralidade será o alvo prioritário da igreja.

O movimento evangélico deve despistar a teologia pessimista da queda. O pecado de Adão tornou-se não só a explicação para o mal que se alastrou, como para o sofrimento universal. Entretanto é preciso reafirmar que a humanidade, independentemente da cor da pele, estética física ou cultura, sempre carregou a imago dei - imagem de Deus. Mesmo maculados pelo pecado, mulheres e homens são capazes de ações dignas. É possível resgatar a esperança, a imago dei nunca se perdeu. Ainda há ONGs lutando pela preservação dos santuários ecológicos; médicos e dentistas enfronhados em favelas e campos de refugiados de guerra; missionários cuidando da saúde de índios. Os poetas ainda falam em versos e prosa sobre a beleza da vida e os seresteiros ainda dedilham suas violas, celebrando o amor. Cientistas lutam para encontrar terapias contra o câncer, vacinas contra o vírus HIV; terapeutas ainda se dedicam aos doentes mentais; ainda existem voluntários cuidando de crianças em orfanatos, pais adotando filhos abandonados, mulheres visitando indigentes em hospitais públicos. Com esses, a igreja deve cooperar porque todos os que se empenham pela vida estão ao lado de Deus. Eles são construtores do futuro.

Ricardo Gondim