12 de novembro de 2010

O PERDÃO E A MULHER AMADA


Deus te proteja, amável menino, de que um dia tenhas de pedir perdão à mulher amada por uma culpa tua! Particularmente à mulher amada, particularmente, por mais culpado que sejas perante ela! Porque a mulher é, meu irmão, o diabo sabe o que é, eu pelo menos entendo delas! Mas tenta te confessar culpado perante ela, "a culpa é minha, dirias, perdoa, desculpa": aí desabará uma saraivada de censuras! Por nada nesse mundo ela te perdoará com franqueza e simplicidade, mas te humilhará até reduzir-se a um trapo, descontará até o que não houve, levará tudo em conta, não esquecerá nada, acrescentará coisas de sua parte e só então desculpará. E isso ainda sendo a melhor, a melhor entre elas! Raspará até a última mágoa e despejará tudo em tua cabeça. - Tal é, eu te digo, a ferocidade que há nelas, em todas e em cada uma, nesses anjos sem os quais nos é impossível viver! Vê só, meu caro, e eu te digo de modo franco e simples: todo homem decente deve estar sob o tacão de ao menos alguma mulher. Essa é a minha convicção; não é uma convicção, mas um sentimento. O homem deve ser magnânimo, e isso não é uma desonra para o homem. Isso não desabona nem um herói, não desabona nem a César! Mas ainda assim não peças perdão, nunca nem por nada. Lembra-te dessa regra: ela te foi ensinada por teu irmão Dmitri, que se perdeu por causa das mulheres. Não, é melhor que eu mereça alguma coisa de Grucha, mas sem perdão. Eu a venero, Alieksiêi, eu a venero! Só ela não vê isso, não, sempre acha pouco o amor. E me atormenta, me atormenta com o amor. Como era antigamente! Antigamente, só as curvas infernais de seu corpo me atormentavam, mas agora minha alma está embebida de sua alma, e através dela eu mesmo me tornei um homem! Será que nos casarão? Porque sem isso morrerei de ciúme. O fato é que sonho com alguma coisa todo santo dia... O que ela te disse a meu respeito?

Fiódor Dostoiévski (Os Irmãos Karamázov; págs: 771 e 772)

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