30 de março de 2010

CORTINA DE FUMAÇA


A questão é simples. A Bíblia é muito fácil de entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de vigaristas trapaceiros. Fingimos que não somos capazes de entendê-la porque sabemos muito bem que no minuto em que compreendermos estaremos obrigados a agir em conformidade. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo a não ser o seu comprometimento de agir em conformidade com ela. "Meu Deus", dirá você, "se eu fizer isso minha vida estará arruinada". "Como vou progredir na vida?"

Aqui jaz o verdadeiro lugar da erudição cristã. A erudição cristã é a prodigiosa invenção da igreja para defender-se da bíblia; para assegurar que continuemos sendo bons cristãos sem que a bíblia chegue perto demais. Ah, erudição sem preço! O que seria de nós sem você? Terrível coisa é cair nas mãos de Deus vivo. De fato, já é coisa terrível estar sozinho com o Novo Testamento.

Soren Kierkegaard


Vejo a igreja institucional como um refúgio construído por mãos humanas para nos proteger das terríveis liberdades e responsabilidades dadas por Deus a cada mortal, as quais Jesus desempenhou de modo tão espetacular. Em contrapartida, talvez esse refúgio seja ele mesmo o inferno. No fim das contas você não encontrará na igreja nada que não seja inteiramente atraente e desejável, e aqui está grande parte do problema. Vá a um templo evangélico no domingo de manhã e o que vai encontrar é gente amável, ordeira, de banho tomado, sorridente, perfumada e usando suas melhores roupas - e é preciso reconhecer que há um público para esse tipo irresistível de companhia. Na verdade, o bom-mocismo reinante é tamanho, na verdade, que não resta praticamente coisa alguma do escândalo inicial do evangelho. Enquanto descansamos nesse abraço comum, a verdadeira igreja, onde estiver (e talvez exista apenas no futuro), estará por certo mais próxima do dono do bar, da vendedora de jogo do bicho, do travesti exausto da esquina, do divorciado com seu laptop, dos velhinhos que babam em desamparo e das crianças que alguém deixou para trás. Certamente não usará gravata e não terá orçamento anual nem endereço fixo.

O efeito dessa nossa obsessão em precisar o conteúdo intelectual da verdadeira fé está em que, ao fazê-lo, conseguimos manter Jesus irrelevante para o restante e vasta maioria do mundo. A impressão que passamos é que a coisa mais útil e importante que o cristão pode fazer é definir intelectualmente e sem arestas como Deus funciona e então defender a todo custo seu ponto de vista. O conteúdo revolucionário da mensagem de Jesus não chega a ser sequer levada em consideração. Já que usamos a teologia como cortina de fumaça para não ter de encará-lo de frente. Enquanto tentamos determinar quem Deus vai endossar no final, não somos obrigados a enfrentar o impensável desafio que seria endossar seus desafios.

Paulo Brabo (A Bacia das Almas; págs: 38, 39 e 195)


"Devemos reaprender a compreender o significado da solidariedade humana: Deus quer seres humanos, não fantasmas que evitam o mundo. Ele fez da terra nossa mãe. Se você tem anseio por Deus, abrace o mundo; se quer encontrar a eternidade, sirva o momento presente".

Dietrich Bonhoeffer

2 comentários:

Tânia Meneghelli disse...

Oi Diego!

Estive por aqui pra conhecer seu cantinho... Voltarei mais vezes, tá?

Obrigada por ter visitado meu espaço também.

Beijoca!

Diego Cosmo disse...

oiie!
também obrigado pela visita, fique a vontade pra voltar sempre xd

beijos